DESCOMPLICADOR | Value Investing, estratégia para investir a longo prazo
DESCOMPLICADOR
Value Investing: estratégia de investimento a longo prazo
No value investing lucra-se com o crescimento de uma empresa ao investir quando as ações estão em baixa para vender em alta.

Value Investing ou investimento em valor é uma estratégia de investimento de longo prazo que procura identificar ações de empresas com um bom potencial de crescimento mas que estejam temporariamente baratas, comprá-las e esperar anos ou até décadas pela sua valorização. Este horizonte temporal mais alargado tende a funcionar como uma margem de segurança para os investidores.
Como o mercado bolsista pode oscilar muito no curto prazo devido a muito fatores difíceis de controlar – indicadores económicos, notícias ou até mesmo boatos envolvendo o setor onde determinada empresa atua – certas ações podem apresentar, momentaneamente, os seus preços muito abaixo do seu real valor. O investidor em valor é aquele que, neste cenário, aposta numa estratégia de buy and hold, isto é, compra ações para ficar. Como o objetivo é permanecer com estas ações muitos anos, há que procurar empresas em que se acredita.
Value Investing na prática
São inúmeros os motivos que fazem com que um ativo varie o seu preço e crie boas oportunidades para os investidores em valor. Contudo, um dos que melhor explica esta situação é a lei da oferta e da procura. Se um bem está a ser muito procurado e poucos são os vendedores, o preço tem tendência a subir. Por outro lado, se muita gente ao mesmo tempo quer vender alguma coisa e poucos são os interessados na sua compra, o preço tem tendência a cair.
A boa notícia é que essa normal variação de preços do curto prazo – ou até mesmo a irracionalidade intrínseca dos mercados – podem originar boas oportunidades para o value investing uma vez que essa movimentação nos preços das ações pode não corresponder à realidade dos fundamentos das empresas a longo prazo.
Em tese, o “valor” da empresa tende a aumentar ao longo do tempo com o seu crescimento. Mas como o futuro é sempre incerto, outros acontecimentos poderão ditar uma mudança. Uma alteração na equipa de gestão da empresa ou a compra de uma companhia concorrente é suficiente para se gerar pânico ou euforia.
Por isso, este sobe e desce da bolsa não deve ser confundido com a performance da empresa. Uma companhia não fica melhor ou pior devido à oscilação das suas ações. Se uma empresa é bem gerida, vai continuar a sê-lo, independentemente de na bolsa ter registado uma baixa no preço.
Preste atenção:
A filosofia de investimento do value investing foi desenvolvida por Benjamin Graham, no século XX, e é seguida pelos maiores investidores de sempre, como o lendário Warren Buffett.
Análise fundamentalista no Value Investing
Entre diversos critérios e variáveis, a análise fundamentalista do value investing permite identificar o valor de uma empresa que vai muito além dos altos e baixos da bolsa de valores. Este tipo de análise à empresa avalia critérios, ou melhor, fundamentos como:
- Capacidade instalada;
- Tamanho e faturação;
- Market share (quota de mercado);
- Tecnologia utilizada;
- Histórico da empresa;
- Novos produtos;
- Valor patrimonial;
- Fluxo de caixa;
- Análises de balanços e demonstrações de resultados;
- Geração de receitas e lucro;
- Alavancagem e controlo da dívida;
- Potencial de crescimento;
- Concorrência;
- Entre outros
Por outro lado, o investidor em valor não vai querer desfazer-se desse ativo assim que atingir um preço que lhe dê lucro, mas sim ficar com esses “papéis” durante muito tempo, eliminando custos de transações e impostos e com isso maximizando o investimento.
Confiando na sua análise, se mais tarde a empresa passar por nova baixa em bolsa, o seguidor do value investing aumenta o seu capital, isto é, compra mais ações para melhorar a sua posição. Porque o investidor em valor “não segue a manada”, ele define uma estratégia (há que ter uma) e segue-a mesmo em momentos de turbulência.
Princípios básicos do value investing
- Querer pertencer – o investidor deve procurar empresas que conhece e que acredita de forma a conseguir esperar por um longo período de tempo;
- Confiar – perceber o mercado, produto ou marca é imperativo;
- Analisar – aplicando os princípios da análise fundamentalista procurar por ações que estejam subvalorizadas, ou seja, que valem menos do que deviam;
- Saber esperar – o investidor em valor não fica eufórico ou desespera com a volatilidade do mercado. No curto prazo, as ações sofrem altos e baixos, o que é normal. Confie na sua estratégia e olhe no longo prazo.
- Evitar a manada – o objetivo é seguir as análises previamente feitas e não deixar-se influenciar pelas notícias ou boatos por detrás das cotações.
- Admitir erros – mesmo com muito estudo os erros vão acontecer. É preciso perceber onde se errou para não voltar a cometer a mesma falha.
Riscos do Value Investing
Como acontece com qualquer filosofia de investimento, também esta acarreta riscos. O investidor pode acreditar no desempenho de uma empresa, mas ela pode não devolver esse resultado. A incerteza do amanhã traz riscos reais aos investidores.
Por isso deverá procurar uma estratégia que corresponda ao seu perfil de investidor e às suas competências técnicas. No caso do value investing precisa ter um alto nível de conhecimento e experiência em análise financeira. Sem ela não conseguirá avaliar o valor de uma empresa.
Investidores mais impacientes também não deverão seguir esta filosofia em que o fator tempo é desafiador mas também um grande aliado se bem combinado com paciência, disciplina e sangue-frio (finanças comportamentais) para conseguir aguardar pelos resultados.
A contrapartida é que ao utilizar na sua metodologia fundamentos sólidos, o value investing é menos suscetível a flutuações de mercado de curto prazo.
E AINDA…
Para saber mais sobre a bolsa de valores leia o nosso artigo sobre o PSI, índice de referência português.
Os pais do Value Investing: Graham e Buffet
Benjamin Graham (1894-1976) foi professor universitário, economista e investidor e é considerado o pai do value investing. Graham revolucionou a forma como o investidor se deve portar em momentos menos bons e ainda desenvolveu novos métodos de análise às empresas influenciando, desta forma, uma geração de investidores de sucesso por todo o globo. O conceito que criou de “valor do investimento” tem ajudado, ainda hoje, os investidores a evitar erros e a definir estratégias de longo prazo.
Graham é autor de dois livros sobre análise fundamentalista: Security Analysis e Investidor Inteligente de 1949. Este último ainda hoje é a “bíblia” dos investidores em valor. Os seus ensinamentos inspiraram Warren Buffett (1930), uma lenda viva, e o maior investidor de todos os tempos, de quem Graham foi mentor por diversas décadas. Também ele é atualmente considerado um guru dos investimentos.
Aos 14 anos Buffett fazia o seu primeiro investimento e aos 30 já estava milionário. Buffett tem uma estratégia de investimentos clara: ele compra ações como se estivesse a comprar empresas e não apenas os seus “papéis”. Na prática isto significa que ele não tem prazos para os seus investimentos.
Ao usar corretamente os fundamentos do value investing, Buffet investiu ao longo dos tempos em setores tão diversos como banca, seguradoras, alimentação e tecnologia. É de sua autoria a frase: “o preço é o que você paga. Valor é o que leva”
Três livros sobre Value Investing
- O Investidor Inteligente, de Benjamin Graham. Bestseller cuja primeira publicação remonta a 1949, tem-se revelado ao longo dos tempos como uma espécie de guia para ganhar dinheiro na bolsa. Neste livro Graham explica como a educação financeira, o conhecimento do mercado e uma visão de longo prazo se devem combinar para alcançar o sucesso nos investimentos. Dele Warren Buffet disse: “De longe, o melhor livro sobre investimentos já escrito.”
- Investindo em Ações no Longo Prazo: O guia indispensável do investidor do mercado financeiro, de Jeremy Siegel é considerado por muitos um guia do “buy and hold”. Esta obra procura explicar as forças que movem os mercados atuais. Nela Siegel analisa as fontes de crescimento económico e do enriquecimento em ações no longo prazo referindo ainda mecanismos de proteção para os investimentos. A 5ª edição (2015) traz uma atualizações dos dados bem como conteúdos novos como a análise de Siegel à quebra do mercado imobiliário americano, à crise financeira e à consequente recessão internacional.
- Investimento em Valor: de Graham a Buffett e Além, de Bruce Greenwald, Tano Santos, Erin Bellissimo, Judd Kahn e Mark A. Cooper (2021). Na base deste livro está o curso sobre investimento em valor que Bruce Greenwald deu na Columbia Business School durante cerca de 25 anos. Ao longo da obra os autores aprofundam etapas que ajudam o investidor a procurar bons investimentos através do value investing. Como estudar o valor patrimonial de uma empresa e como elaborar uma gestão de riscos que protejam o investidor de uma perda permanente do capital são outros pontos abordados.
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